quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Brasileira abandona maratona e sai em cadeira de rodas em Londres


Poliana Okimoto durante a prova nas Olimpíadas
Poliana Okimoto durante a prova nas Olimpíadas
A adversária mais temida por Poliana Okimoto sempre teve aparência tranquila. Não se batia como as outras ao seu lado, não fazia força, mas parecia ser a única capaz de dificultar o caminho da brasileira em direção à medalha olímpica. A água do lago Serpentine, no Hyde Park, costuma ter temperaturas baixas e que parecem ainda menores para alguém com apenas 55kg. Para tentar se acostumar ao cenário, a maratonista aquática treinou e disputou provas no local, fez sessões na represa Bilings em São Bernardo do Campo (SP), chegou a ficar em terceiro lugar no evento-teste de Londres deste ano. Estava preparada e se sentia competitiva até os 18ºC. Nesta quinta-feira, antes da disputa dos 10km, ela se apressou em saber quanto o termômetro marcava. Dezenove graus. O dia parecia estar sorrindo para ela. Céu azul, sol e calor de 27ºC. O que não estava no roteiro era a hipotermia. Por conta dela, Poliana lutou o quanto pôde, mas levantou o braço para desistir da prova quando entrou na quinta volta das seis previstas. 
Apesar de Ricardo Cintra, técnico e marido, ter feito o possível para mantê-la na disputa, ela não aguentou. Saiu do lago, desmaiou e foi levada de cadeira de rodas para o centro médico da instalação. Aquecida e com oxigênio, demorou pouco para ter a pressão estabilizada. Mas era difícil aceitar que tanto esforço tinha terminado de uma forma tão traumática. Nunca havia passado por uma situação assim, nunca havia abandonado uma prova. 
- Ela não falou anda, só chorou um pouco porque estava cotada como favorita e é difícil receber essa patada. Poliana nunca perdeu de algumas atletas que estavam na frente dela. Se preparou muito. Já nadou em prova com temperaturas menores, ganhou em Portugal e na França, mas cada prova é uma prova. hoje ela vinha fazendo a estratégia de sempre: nadar atrás e reagir mais nas últimas voltas. Só que o ritmo dela caiu muito da terceira para a quarta volta. A gente acredita que o problema que causou a hipotermia tenha sido choque térmico. Esses 27, 28 graus batendo nas costas e 19 embaixo fizeram o a estrutura física dela sentir. Ela já teve outros quadros de hiportemia, mas nunca assim tão agudo. A húngara que ganhou o ouro nunca tinha vencido uma disputa e era a mais gordinha de todas, tinha massa muscular maior - disse Igor Souza, chefe da equipe de maratonas aquáticas.
A atleta a que ele se refere é Eva Risztov, que já havia participado de duas provas individuais e do 4x100m livre na piscina do Centro Aquático. Com 1h57m38s, ela garantiu o título, seguida da americana Haley Anderson (1h57m38s) e da italiana Martina Grimaldi (1h57m41s). A brasileira se manteve no pelotão desde o início. Completou a primeira volta em 12º, caiu para 15º na segunda, depois para 16º e 20º na quarta. Até que não teve mais como continuar.  
Poliana nunca esteve tão bem preparada. A vice-campeã mundial de 2006 e campeã do circuito da Copa do Mundo de 2009 se mudou para o Rio durante a preparação. Treinava, sozinha, no Parque Aquático Maria Lenk durante 2h30m todos os dias. Atravessa aquela piscina até completar 14.000km e, nos dias de folga, evitava ir à praia porque para ela aquilo representava lugar de trabalho. Tirou proveito também da estrutura oferecida pelo Laboratório Olímpico do COB. De acordo com Igor Souza, era testada todos os dias, tirava sangue, estava em ótima forma. Fez tudo sem reclamar. Por isso, foi tão difícil aceitar o que tinha acabado de acontecer. Por orientação médica, deixou o Hyde Park em silêncio. A ordem era de repouso absoluto.
- Ela saiu andando daqui. O COB providenciou um carro levá-la embora porque tem que ficar de repouso total. Ela passou por um processo de hidratação e agora tem de se alimentar bem. Vamos ter que trabalhar a cabeça dela porque poderá ser campeã mundial no ano que vem em Barcelona. Mas não é uma Olimpíada, mas é uma realidade que ela vai ter que trabalhar para o Rio de Janeiro. Foram quatro anos de trabalho. Ela é uma atleta que de 12 provas no ano vence 10 e sempre está entre as cinco do mundo. Se eu estou querendo evitar a cabeça num buraco, imagina ela.
maratona aquática largada londres 2012 (Foto: Agência Reuters)
A largada da maratona aquática de 10km: dia bonito e água a 19ºC (Foto: Agência Reuters)

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