O médico Gerson Aita estava em Santa Maria no domingo (27) a negócios e visitando parentes que moram quase em frente à boate Kiss, que incendiou deixando 235 mortos. Ao ver as chamas e ouvir as pessoas gritando, ele correu para o local, a poucos metros do prédio onde estava, para prestar socorro, chegando a danceteria antes mesmo dos bombeiros e das equipes médicas.
Ele foi convocado pela Polícia Civil para prestar depoimento nesta manhã de quarta-feira (30), pois suas informações podem ajudar a investigação a entender porque a tragédia teve tamanhas proporções.
"Quando eu cheguei, não havia mais seguranças na porta, as pessoas saíam gritando, desesperadas, e se jogavam no chão, tentando pegar ar. Gritei: 'Sou médico, estou na calçada, tragam todo mundo para o outro lado da rua'", relembra ele.
"Os clientes e outras pessoas começaram a tomar a rua e gritei para que liberassem rápido, pois os bombeiros e as equipes de resgate precisavam ter acesso. Não precisei falar duas vezes. Eles fizeram um cordão de isolamento e foi todo mundo para as calçadas. Algumas pessoas também queriam dar água para quem saía lá de dentro sem ar, e eu proibi. Imagina, se a pessoa não morreu lá dentro asfixiada, corria o risco de morrer com a água, que poderia ir para os pulmões naquele momento. Os jovens saíram repassando a determinação aos colegas, foi impressionante", diz."As pessoas saíam com uma fuligem preta nos lábios e na saliva. Com certeza inalaram um gás tóxico, pela rapidez do ocorrido", relembra. O médico diz ainda que se surpreendeu com a capacidade de cooperação entre os jovens para auxiliar no socorro dos outros demais feridos.
Outra coisa que surpreendeu Aita foi a coragem dos bombeiros que participaram da ação que, segundo ele, entraram no local sem ter equipamentos de segurança adequados. "Eles não tinham capacete de incêndio, estavam apenas com a capa amarela e uma máscara branca normal, destas hospitalares. Dois subiram no teto e tentaram cortar um pedaço da parede, para facilitar a entgrada de ar. Os bombeiros não tinham equipamento adequado para uma tragédia como esta", acredita.
O médico diz ainda que três pessoas, que estão entre as últimas que foram retiradas do local e que ainda estão vivas, estavam embaixo de uma janela, localizada em frente ao prédio, e que estava bloqueada por madeira. "Quando eu vi as pessoas quebrando aquelas madeiras do lado de fora, fiquei sem entender. Mas eles sabiam que ali tinha uma janela. Quebraram a janela e ainda conseguiram retirar três pessoas, que estavam caídas no chão dentro da Kiss", diz. (fonte: G1)
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