segunda-feira, 18 de março de 2013

Equipe encontra vida microscópica no local mais fundo dos oceanos Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/ciencia/equipe-encontra-vida-microscopica-no-local-mais-fundo-dos-oceanos-7869982#ixzz2Nwct6v7X © 1996 - 2013. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.



Ilustração mostra como é o leito da Fossa das Marianas, 11 quilômetros abaixo do nível do mar, o local mais profundo dos oceanos
Foto: Terceiro / Divulgação/Noaa
Ilustração mostra como é o leito da Fossa das Marianas, 11 quilômetros abaixo do nível do mar, o local mais profundo dos oceanosTERCEIRO / DIVULGAÇÃO/NOAA
Uma equipe internacional de cientistas anunciou evidências de vida microscópica, e em abundância, no limite das profundezas dos mares, a 11 mil metros de profundidade. Até então, acreditava-se que o leito da Fossa das Marianas, no Oceano Pacífico, conhecido como Challenger Deep, era um lugar tão inóspito que praticamente nenhuma forma de vida seria possível. No local — que já foi visitado ano passado por um submarino idealizado e tripulado pelo diretor de cinema James Cameron — não há luz do sol, e a pressão da água equivale a 1.100 quilogramas por centímetro quadrado, algo como um carro de passeio sobre o dedão do pé.
A descoberta, que envolveu cientistas da Dinamarca, Alemanha, Reino Unido e Japão, trouxe de volta a teoria de que a fossa oceânica é um depósito orgânico de vida marinha. Mais que isso, os cientistas acreditam que as fossas oceânicas podem ter uma importância até então ignorada sobre o ciclo do carbono, mecanismo fundamental para a regulação do efeito estufa na atmosfera. O carbono é um elemento indispensável à vida, e processos de decomposição e respiração de organismos são parte deste ciclo.
A pesquisa foi publicada na edição de ontem da revista “Nature Geoscience”. Em 2010 — antes, portanto, de Cameron — a equipe enviou um módulo não tripulado até o leito da fossa marinha, onde foram coletadas amostras de sedimentos cavadas 20 centímetros sob o leito. Os pesquisadores concluem que os micro-organismos que vivem na profundeza da Fossa das Marianas se sustentam de plantas e outras criaturas mortas que descem da superfície do oceano depois que se decompõem.
Local foi visitado pela primeira vez em 1960
Na missão de Cameron, em seu Deep Flight Challenger, o diretor de Avatar disse ter encontrado amebas gigantes e anfípodes, criaturas minúsculas semelhantes ao camarão. Mas na visita do cineasta não foram retiradas amostras de solo na profundidade da expedição que gerou o estudo publicado na “Nature Geoscience”. Antes de todos, em 1960, o submersível Triste levou Jacques Piccard e Don Walsh ao limite da Fossa das Marianas, quando conseguiram ficar 20 minutos no ponto mais profundo.
As evidências levantadas pela pesquisa levaram Robert Turnewisch, um dos autores do trabalho, da Associação Escocesa para Ciência Marinha, a declarar que as partes mais profundas do mar “certamente” não são zonas mortas. Para surpresa dos cientistas, a quantidade de organismos encontrados no fundo da Fossa das Marianas era duas vezes maior que do que em medições feitas cinco quilômetros mais acima, em planícies abissais. Foram encontrados cerca de 10 milhões de micróbios por milímetro de solo escavado no Challenger Deep.
Pode soar contraditório, mas a maior quantidade de organismos retirada do Challenger Deep tem uma hipótese: especula-se que terremotos e o afunilamento das regiões mais profundas da fossa provocam avalanches com material orgânico até o Challenger Deep. Turnewitsh explicou que os micro-organismos da região respiram usando o mesmo mecanismo celular existente no nosso corpo, por isso, a pesquisa consistiu em calcular o nível de oxigênio encontrado no local como medida para a atividade das colônias microbianas.
— Temos uma pequena e exótica peça de um quebra-cabeça que nunca havia sido estudado antes — disse Ronnei Glud, da Universidade do Sul da Dinamarca, e líder da pesquisa sobre a forma como os oceanos participam do ciclo de carbono do planeta. — É surpreendente que haja tanta atividade bacteriana. Normalmente a vida se torna mais escassa à medida que se vai mais fundo. Mas quando se vai muito mais fundo, as coisas começam a acontecer novamente.
Apenas 2% da área oceânica do planeta têm mais que seis mil metros de profundidade. Até agora, os cientistas suspeitavam que a vida na maior parte das fossas marítimas, onde a água tem temperatura próxima do congelamento, era bastante limitada por causa da falta de alimento. Era consenso de que apenas entre 1% e 2% da matéria orgânica originada das regiões mais próximas do nível da atmosfera chegassem a uma profundidade máxima de 3.700 metros.
A região visitada pelo módulo engole facilmente a altura de qualquer montanha do planeta, inclusive o Monte Everest com seus 8.848 metros acima do nível do mar. A habilidade de sobreviver em regiões tão extremas pode significar que tais organismos produzem enzimas que poderiam ser usadas em processos de fabricação sob altas pressões.

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