Ele estava a caminho de uma eleição tida como certa para o governo da Bahia. Era o eixo de um projeto que mirava a sucessão de Fernando Henrique Cardoso na Presidência em 2002.
Além do aparato político montado pelo pai - o senador Antonio Carlos Magalhães, à época um dos mais poderosos homens da República – tinha em mãos o trunfo de transitar livremente nas mais variadas correntes que brigavam pelo poder no PFL e no PSDB. Fora o carisma nato, que o tornava querido até entre os rivais do PT. Mas, na manhã de 21 de abril de 1998, a trajetória do deputado federal Luís Eduardo Magalhães foi interrompida, aos 43 anos.
Naquele dia, a morte do parlamentar baiano, vítima de um infarto fulminante, surpreendeu o Brasil pela precocidade, característica que o acompanhou desde que ele começou a se mover nos pavimentos da política. Familiares, amigos e admiradores relatam que, desde cedo, Luís Eduardo, tinha certeza do que queria. E, mesmo protagonista de uma ascensão meteórica, gostava de subir as escadas degrau por degrau. Foi assim que, aos 18, aceitou o emprego de oficial de gabinete do pai em 1973, no primeiro mandato de ACM no governo. Dois anos depois, deu o passo seguinte.
Foi nomeado chefe de gabinete da primeira secretaria da Assembleia, onde ficou até 1979, quando decidiu se candidatar a deputado estadual pela extinta Arena. Aos 23, foi eleito com 125.338 votos, até então um recorde na disputa pelo Parlamento estadual. Em 1982, já no PDS, foi reeleito. É nesse período que Luís Eduardo começou a consolidar as características que o tornariam reconhecido no universo político, ao assumir a Presidência da Casa: a extrema habilidade para lidar com aliados e rivais, a capacidade de honrar acordos e a obsessão em agir com luz própria.
“Ele tem as minhas virtudes e nenhum dos meus defeitos”, repetia o pai, sempre que era provocado a falar sobre o filho. ACM tinha exata noção do que dizia. Por várias vezes, viu o filho tomar atitudes de acordo com sua própria consciência. Um episódio capitular do anedotário político baiano revela bem o estilo adotado por Luís Eduardo ao longo de suas duas décadas de vida pública. Em 1984, o então presidente da Assembleia foi para uma delegacia da capital protestar contra a prisão de militantes do PCdoB, a mesma turma que costumava demonizá-lo nas manifestações, que tinham ACM como alvo maior.
Congresso
Quando foi eleito deputado federal em 1987, chegou a Brasília carregando o estigma de ser apenas outro herdeiro de políticos influentes. Contudo, durante os 11 anos em que permaneceu na Câmara, conseguiu a admiração dos correligionários e o respeito dos adversários, ao nunca retroceder ou esconder suas posições, mesmo que o preço fosse alto. Foi dessa forma que, em meio ao levante dos caras pintadas e ao clamor público, votou contra o impeachment de Fernando Collor em 1992.
Não por amizade ao presidente, a quem não escondia certo desprezo, mas por fidelidade à bancada do PFL, partido do qual era líder, e por discordar da forma como as articulações foram conduzidas. “Transforma-se este plenário em tribunal de acusação. Acato as decisões da Justiça, acato as decisões da maioria, mas devo registrar, neste instante, meu protesto (...) Votarei contra o impedimento do presidente da República. Sou responsável pelos meus atos”, disse, em pronunciamento registrado nos anais da Câmara em 29 de setembro de 1992.
Nos anos seguintes, foi um dos maiores apoiadores do Plano Real e encabeçou o processo que culminou na aliança entre o PFL e o PSDB, responsável pela eleição de FHC em 1994.
Ascensão
Teve papel crucial para eliminar as resistências de ACM à aliança com os tucanos, o que o fez ganhar a amizade e a gratidão de FHC e dos caciques tucanos. Durante a articulação da chapa para concorrer à Presidência, o pai gastou saliva para convencê-lo a ser candidato a vice. Mais uma vez o filho decidiu acender a luz própria. Queria ficar em Brasília. A opção tinha um objetivo: presidir a Câmara. Com a vitória de FHC, foi eleito sem dificuldades em 1995 e, nos dois anos de mandato, ganhou a estampa de um dos maiores articuladores da Nova República.
Ascensão
Teve papel crucial para eliminar as resistências de ACM à aliança com os tucanos, o que o fez ganhar a amizade e a gratidão de FHC e dos caciques tucanos. Durante a articulação da chapa para concorrer à Presidência, o pai gastou saliva para convencê-lo a ser candidato a vice. Mais uma vez o filho decidiu acender a luz própria. Queria ficar em Brasília. A opção tinha um objetivo: presidir a Câmara. Com a vitória de FHC, foi eleito sem dificuldades em 1995 e, nos dois anos de mandato, ganhou a estampa de um dos maiores articuladores da Nova República.
Na Presidência da Casa e fiel aos ideias do liberalismo, costurou acordos que resultaram na votação de 656 matérias. Conseguiu a aprovação de mais de 50 leis e 14 emendas à Constituição, algumas das quais mudaram a economia do país. Entre elas, a criação de outro conceito de empresa nacional, através da derrubada do monopólio estatal do petróleo, das telecomunicações, da distribuição de gás. Pôs fim às barreiras ao capital internacional, o que permitiu o aporte de investimentos no Brasil. Em seu último ato, articulou o apoio para aprovar a emenda da reeleição.
Desafio
Vitaminado por sua atuação no Congresso, querido entre os pares, Luís Eduardo chegou ao início de 1998 com uma dúvida: aceitar os apelos do pai e disputar o governo do estado, numa época em que o carlismo dominava o eleitorado baiano, ou continuar em Brasília, concorrendo ao Senado. No tabuleiro, estavam os planos de ACM e do PFL, interessados em conseguir, pela primeira vez, eleger um presidente. Decidiu-se pela Bahia. Em março de 1998, anunciou sua candidatura ao governo.
Para enfrentar a maratona de campanha, reduziu a quantidade de cigarros, iniciou uma dieta, começou a emagrecer e incluiu as caminhadas na rotina diária. Em pleno feriado de 21 de abril, Dia de Tiradentes, saiu cedo para cumprir a agenda de exercícios físicos. Subitamente, o coração parou. O país, perplexo e tomado pela surpresa, via na TV a confirmação da morte de um deputado conhecido pela jovialidade. As exclamações tinham o mesmo tom de incredulidade: “Não é possível!”.
Era o fim da trajetória do principal herdeiro da família Magalhães, político admirado pela habilidade e magnetismo, homem de gosto rebuscado, formado em Direito, mas que amava cinema, Tom Jobim e Frank Sinatra, bom de conversa e querido pela esquerda, direita e centro. O pai conhecido pelo carinho dispensado aos três filhos ainda adolescentes, fruto do casamento com Michelle Marie. Naquele dia, a Bahia parou e, 15 anos depois, ainda mantém viva a lembrança de um político que partiu quando ninguém esperava um adeus. (Fonte: Correio).
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