A recente epidemia de ebola pode ter sido iniciada em uma vila na Guiné, leste africano, quando uma comunidade consumiu carne de morcego. A primeira pessoa a se alimentar do animal teria sido uma criança, apelidada de infante zero. Ela vivia no vilarejo de Gueckedou, uma região em que esse tipo de carne é consumida frequentemente. Segundo a rede BBC, a família deste paciente disse ter caçado duas espécies de morcego conhecidas por hospedar o vírus. A criança morreu em dezembro de 2013.
Morcegos não são os únicos animais menos convencionais que podem parar nas mesas de famílias africanas: chimpanzés, ratos, cobras e até porco-espinhos são mortos para um consumo. Nem sempre apenas a fome é levada em conta neste hábito. Trata-se de uma prática popular, porque alguns tipos de animais são considerados uma iguaria.
Estima-se que na Bacia do Congo, por exemplo, as pessoas comam cinco milhões de toneladas de carne de animais selvagem por ano. A questão é que alguns desses animais podem estar contaminados e transmitir uma série de doenças. Os morcegos são hospedeiros ideais por oferecerem grande resistência ao vírus. Por meio de suas fezes ou mesmo de algumas frutas que tocaram, eles podem infectar animais como chimpanzés e gorilas. Mas ainda não se sabe exatamente como o ebola é transmitido de animais para humanos.
Em entrevista à BBC Brasil, Johnathan Ball, virologista da Universidade de Nottingham, afirmou que frequentemente há uma "espécie intermediária" no processo, apesar de também haver evidências de que se possa pegar ebola diretamente de morcegos. "Mas é difícil para o vírus saltar a barreira das espécies até os humanos.
O vírus teria que primeiramente ganhar acesso via sangue, contaminando células, para se replicar", disse. A maioria dos consumidores da carne de animais selvagens já compra o produto cozido ou defumado. O risco é muito maior para quem manuseia o material cru. Em Gana, país que ainda não foi afetado pelo ebola, mais de 100 mil morcegos são mortos anualmente. Uma recente enquete revelou que caçadores frequentemente tiveram contato com o sangue dos animais e em alguns casos foram mordidos ou arranhandos por eles.
A atual epidemia de ebola mostra que, embora as chances de infecção sejam raras, elas são possíveis. A doença tem origem animal. Apesar disso, a disseminação do vírus, do infante zero até agora, teria sido causada por contatos humanos. Na Libéria, um dos países mais afetados pela atual crise, a venda de carne de animais selvagens foi proibida. Mas há quem alegue que este tipo de decisão vá apenas forçar que a venda deste tipo de carne ocorra num mercado negro, além da questão cultural.
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