Na semana passada, VEJA revelou que sete deputados federais foram flagrados pelas câmeras de segurança do prédio onde funcionava o escritório do doleiro Alberto Youssef - preso há dois meses por operar um gigantesco esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo empresas estatais e funcionários públicos de alto escalão.
De acordo com a Veja, os parlamentares fotografados permaneceram em um conveniente silêncio. Seus colegas, inclusive os mais aguerridos, também ficaram à espreita. Não houve uma única manifestação de inconformismo, protesto ou um pedido de investigação.
De acordo com a Veja, os parlamentares fotografados permaneceram em um conveniente silêncio. Seus colegas, inclusive os mais aguerridos, também ficaram à espreita. Não houve uma única manifestação de inconformismo, protesto ou um pedido de investigação.
Na terça-feira, a deputada Aline Corrêa, uma das mais assíduas visitantes de Youssef, participou tranquilamente de um almoço com a presidente Dilma Rousseff, organizado para oficializar o apoio do PP à reeleição da petista. Dos seis parlamentares flagrados pelas câmeras, cinco são do PP. Sobre as visitas frequentes ao doleiro, Aline Corrêa tinha a resposta na ponta da língua caso algum curioso perguntasse.
Ainda conforme a revista, na quarta-feira, o ex-ministro Mário Negromonte (PP), outro freguês do doleiro, foi escolhido como conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) da Bahia. Por indicação do governador Jaques Wagner, do PT, Negromonte, acredite, será a partir de agora fiscal da boa aplicação do dinheiro público nas cidades baianas. Nada mais apropriado para um político enredado no maior caso de corrupção do momento.
Outros deputados que mantinham laços com o doleiro - como os paranaenses André Vargas (ex-PT, hoje sem partido) e Nelson Meurer (PP), o baiano Luiz Argôlo (ex-PP, hoje no Solidariedade), o alagoano Arthur Lira (PP) e o catarinense João Pizzolatti (PP) - simplesmente se fingiram de mortos. A lista de partidos na rede de Youssef tem mais um representante famoso. Assessor especial do Ministério do Trabalho, o advogado João Graça era outra presença constante no escritório do doleiro, de acordo com os registros da portaria.
Homem de confiança do ministro Manoel Dias e do presidente do partido, o notório Carlos Lupi, João Graça já teve o nome envolvido em outras histórias desabonadoras. Numa delas, foi acusado de intermediar um pagamento de propina feito dentro do Ministério do Trabalho, nas mãos do PDT desde o governo Lula. A exemplo dos deputados, Graça se absteve de dar explicações sobre sua relação com Youssef. Procurado, o ministério limitou-se a informar que ele estava de férias e se eximiu de providências adicionais. Na sexta-feira, porém, depois de instado pela reportagem de VEJA a se manifestar, o assessor pediu demissão, mas sem explicar os motivos. A lista de visitantes de Youssef inclui ainda dois denunciados no processo do mensalão: o ex-deputado José Borba e João Cláudio Genu, ex-assessor do PP.
A movimentação no escritório de Youssef era intensa. Pela mesma porta por onde passavam as autoridades de Brasília transitavam outros investigados da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Compareciam de entregadores de dinheiro que serviam ao doleiro a representantes de empresas que aparecem abastecendo o caixa do esquema operado por ele, sustentado por negócios em diferentes áreas do governo - do Ministério da Saúde a estatais como a Petrobras. O bunker era o lugar onde se encontravam os diferentes interesses envolvidos: o das empresas que desejavam contratos e o dos políticos que viabilizavam esses contratos. Ao doleiro cabia a tarefa de equilibrar essa equação.
Fonte: reportagem de Adriano Ceolin/ Revista Veja
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