O “acordão” firmado na CPI mista da Petrobras para blindar os políticos suspeitos de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras gerou uma crise no PSDB depois que membros do partido aceitaram barrar convocações de membros do PT e do governo federal. O senador Aécio Neves (PSDB-MG), presidente do partido, se irritou com o aval de membros do PSDB ao acordo firmado com aliados da presidente Dilma Rousseff. Aécio divulgou uma nota nesta quinta-feira (6) para negar que o partido tenha pactuado com “qualquer tipo de acordo que impeça o avanço das investigações na CPI”. Aécio resolveu reagir especialmente porque o “acordão” foi fechado no dia de seu retorno ao Senado, em que discursou defendendo duras investigações sobre o esquema de corrupção na Petrobras. Na nota, Aécio afirma que o PSDB lutou pela instalação da CPI e defende que as investigações sejam concluídas sem poupar nenhum dos envolvidos.
“Temos de ir a fundo na apuração do chamado ‘petrolão’ e na responsabilização de todos que cometeram eventuais crimes, independentemente da filiação partidária. Essa é a posição inarredável do PSDB”, disse Aécio.
O deputado Carlos Sampaio (SP) representou o PSDB na reunião que definiu o “acordão” na CPI.
Depois da reunião que selou o “acordão”, Sampaio confirmou à Folha que o PSDB concordou em excluir das convocações os políticos e as pessoas citadas nas delações premiadas de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, e do doleiro Alberto Youssef.
“Vamos excluir os agentes políticos, aqueles que estão nas delações premiadas e vamos ouvir aqueles que estão na Petrobras, são agentes técnicos. Abrimos mão de ouvir Gleisi [Hoffmann] e Vaccari [Neto]. Todo mundo concordou”, declarou Sampaio.
O tucano ainda disse que a CPI não vai apontar os políticos envolvidos no esquema, o que vai ocorrer ao final das investigações e das delações premiadas. Sampaio também afirmou à Folha que o PSDB concordou com o acordão porque serão chamados a depor Sérgio Machado e Renato Duque, ex-presidente da Transpetro indicado pelo senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e ex-diretor de Serviços da Petrobras.
RECUO
Em entrevista nesta quinta, Sampaio negou que a reunião tenha provocado mal-estar no PSDB. O deputado disse que não houve acordo para poupar políticos, apenas a construção de um “roteiro de procedimentos” diante do curto prazo para a conclusão das investigações, que terminam em dezembro.
Segundo o deputado, o roteiro prioriza as apurações relacionadas às empreiteiras e aos diretores da Petrobras suspeitos de envolvimento no esquema de corrupção. O consenso, segundo o tucano, é que seria difícil avançar nas investigações envolvendo deputados e senadores sem o acesso à delação premiada.
Sampaio também disse que houve “má fé” de petistas que anunciaram o acordão porque não há “lógica” no PSDB querer poupar congressistas –já que o único citado do partido, o ex-senador Sérgio Guerra, morreu este ano.
“O que eles querem é colocar todos numa vala comum, dizer que o PSDB está com medo, mas não há a menor lógica nisso. O PSDB foi quem criou a CPI. Quem roubou a Petrobras, seja político, diretor, empreiteira, tudo e bandido de quinta categoria”, disse.
Segundo Sampaio, os pedidos de convocação e de quebras de sigilos que não forem deliberados em 10 dias pela CPI serão aprovados automaticamente.
ACORDÃO
Com o acordo entre governo e oposição, o PT conseguiu barrar convocações consideradas incômodas, como a da senadora paranaense Gleisi Hoffmann, a do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, e a do tesoureiro do partido, João Vaccari Neto.
O doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa teriam afirmado, em suas delações premiadas, que abasteceram a campanha de Gleisi em 2010 com dinheiro do esquema.
Segundo a dupla, na ocasião, foi entregue R$ 1 milhão para a campanha de Gleisi, a pedido de Paulo Bernardo, marido da senadora. A senadora nega as acusações.
Segundo a dupla, na ocasião, foi entregue R$ 1 milhão para a campanha de Gleisi, a pedido de Paulo Bernardo, marido da senadora. A senadora nega as acusações.
Por outro lado, o PSDB agiu para evitar a ida à CPI do empresário Leonardo Meirelles, apontado como laranja de Youssef. Meirelles disse à Justiça Federal que parlamentares tucanos também receberam propina do esquema.
Relator da CPI, o deputado Marco Maia (PT-RS) explicou que o plano de deixar de fora alguns dos personagens foi acertado numa reunião preliminar, antes da sessão desta quarta (5).
“Foi um acordo político, feito por todos os presentes, que se resolveu, em função da falta de densidade das denúncias, não produzir nenhum tipo de oitiva neste momento.”
Na lista de 835 requerimentos de convocação e convites apresentados, há nomes do alto escalão, tanto do PT quanto da oposição. Entre eles, da presidente Dilma Rousseff, do ex-presidente Lula e do senador Aécio Neves. Porém, nenhum desses pedidos foi apreciado pela comissão.
Relator da CPI, o deputado Marco Maia (PT-SP), seguiu o discurso de Sampaio e afirmou que houve um desentendimento sobre o acordo de procedimento fechado pela comissão. Ele reforçou que sem as delações premiadas será difícil avançar em relação aos políticos e sustentou que, apesar do acerto sobre os depoimentos, ninguém está livre de ser investigado.
“Se eu disse uma palavra mal interpretada, quero fazer uma correção. Houve um acordo de procedimento para quem será ouvido ou não. Não houve acordo sobre o resultado, de quem será ou não investigado. Não há acordo de proteção de A, B ou C”, afirmou
Fonte: Folha de S. Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário