Há dez anos, Josi Campos vivia isolada em seu apartamento na Lagoa, sem luz, água, gás e telefone. Sem vida. Se alimentava de restos de comida que buscava no lixo e usava sempre as mesmas peças de roupa. Uma série de reportagens publicadas pelo EXTRA chamaram a atenção do drama que vivia a modelo, uma das musas dos anos 80, ex-capa da “Playboy”. A ajuda apareceu, e de quem muita gente não poderia imaginar. Aos 51 anos, Josi vive numa clínica psiquiátrica, em Porto Alegre, desde que seu sofrimento veio a público. Diagnosticada ainda na época com esquizofrenia, ela recebe tratamento médico e leva uma vida normal até onde a doença permite.
A ajuda veio da proprietária da clínica onde ela está internada. Mas a doutora Vera Ceroni não tem com Josi Campos uma relação apenas de médico e paciente, mas uma relação que virou prova de amor. Ela é casada com o primeiro namorado da ex-modelo. Sensibilizada com o que viu nas reportagens publicadas, em 2004, Vera foi, pessoalmente, buscar Josi, que estava internada no Pinel, no Rio de Janeiro.
“Meu filho estava vindo da escola quando viu a foto dela, pele e osso, numa banca. Trouxe o jornal para casa e mostrou para o pai. Ele sabia que eles tinham sido namorados. Meu marido ficou chocado e chorou muito. Há muito tempo, ninguém tinha mais notícias dela. Superei os ciúmes que eu tinha daquela história e, dias depois, estava no Rio para levá-la de volta para Porto Alegre, que é a cidade dela. Aceitei esse desafio na minha vida”, conta Vera, que logo conseguiu encontrar Jesus, irmão de Josi, com quem a ex-modelo também não tinha mais contato. Era preciso a autorização da família para que ela pudesse ser transferida de estado e para outra clínica.
Vera Ceroni a encontrou com 35 quilos e tendo um surto após o outro por causa da doença: “Ela ficou no meu apartamento por alguns dias até ser internada. Tínhamos que alimentá-la com uma seringa. Josi dificilmente estaria viva hoje se não tivesse sido resgatada”. Nesses dez anos de internação, a também ex-Garota de Ipanema (título cobiçado nos anos 80) criou uma nova família.
O irmão pouco a visita e uma irmã, que vive nos EUA, não dá notícias há sete anos. A mãe, também esquizofrênica, morreu no início dos anos 2000. Com os amigos de quando estava no auge, a ex-namorada de famosos como o roqueiro Billy Idol, Chico Anysio e o cineasta Ruy Guerra não tem mais contato com ninguém. A rotina atual de Josi Campos é fazer atividades na clínica, brincar com os animais e assistir à novela das seis, “Boogie Oogie”, que a faz lembrar, como ela mesma diz, seu tempo de adolescente. “Ela não fala do passado, não tem muita consciência do que viveu, mas hoje é uma pessoa que vive sorrindo, uma pessoa feliz”, afirma Vera, que tem formação em enfermagem e vai lançar um livro contando essa história de amor, como ela gosta de chamar.
Mas o livro ainda precisa de um final feliz. Há dez anos, Vera, que foi reconhecida pela Justiça como curadora de sua paciente, luta para vender o apartamento de Josi numa área nobre da Lagoa, interditado há uma década. Ela já impediu que ele fosse a leilão por causa dos condomínios atrasados, e quer usar o dinheiro para comprar um imóvel para a ex-modelo e garantir a ela uma velhice mais segura. Josi Campos hoje tem vida e um sorriso no rosto. Mas ainda lhe falta um casa.
extra
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