terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Com carne de cavalo, Europa amplia escândalos nas redes alimentares


A carne de cavalo não é perigosa para o ser humano – ao contrário daquela da vaca louca, nos anos 90 do século passado, quem não lembra? Isso pode ser verdade. Mas há problemas apontados que vêm com a carne de cavalo. Um dos problemas é de fato bioquímico: cavalos tomam remédios desaconselhados para os seres humanos, como Fenilbutazona, que é um anti-inflamatório, e isso pode, eventualmente, acompanhar a carne equina, sobretudo se o abate ou a comercialização forem feitos de modo clandestino. Outro problema é que este novo “escândalo da carne de cavalo” no lugar da bovina expõe o drama da falta de fiscalização ou de sua precária realização em escala continental. Como em outros casos, sempre se procura um bode expiatório, de preferência num país distante.
Agora é o caso da Romênia, responsável por grande quantidade do fornecimento de carnes (bovina e equina) para a Europa. Mas o problema não é romeno, é europeu, pois a carne da cavalo foi detectada na Irlanda, no Reino Unido, na França, Portugal, Espanha, Holanda e até na austera e vetusta Alemanha. 
Sem falar no “país Nestlé”, a maior empresa produtora de alimentos do mundo que, depois de anunciar que seus produtos estavam a salvo, teve de retirar lasanhas e outros produtos das gôndolas de supermercado quando algumas amostras apresentaram vestígios da carne de cavalo.
Um terceiro ponto é que este episódio é mais um numa cadeia de escândalos e problemas alimentares. No fim de ano passado uma estranha incidência de problemas gastrointestinais foi detectada na França, cuja origem até o momento não foi completamente esclarecida. Um pouco antes uma verdadeira epidemia de infecções gastrointestinais afetou milhares de crianças na Alemanha, com diarreias e vômitos, obrigando centenas de escolas a fecharem suas portas, uma vez que a causa foi detectada na merenda escolar. Desta vez a culpa recaiu sobre morangos importados da China.
Da mesma forma, em 2011 uma epidemia de graves infecções no aparelho digestivo, esta com várias vítimas fatais, atingiu diversos países europeus a partir da região do norte da Alemanha, sobretudo em torno de Hamburgo. Primeiro, a culpa foi posta em pepinos importados da Espanha, com graves prejuízos econômicos para os produtores daquele país, que, depois, o governo alemão teve de indenizar. Mais tarde, constatou-se que a contaminação iniciara a partir de plantações de brotos vegetais em sítios daquela região, mas o problema foi novamente mandado para longe, pois se anunciou que os tais brotos vinham do Egito.
Ocorre, no entanto, que não houve epidemia na China nem no Egito. O problema foi e pelo visto continua sendo europeu, e de dimensão europeia, só podendo, portanto, ser equacionado numa dimensão europeia. Aí reside o problema do problema, uma vez que em dimensão europeia, com a crise do sistema financeiro e as consequentes “políticas de austeridade” para contê-la, ou pelo menos circunscrevê-la aos governos e suas “dívidas soberanas”, em vários países as agências e o alcance da fiscalização vêm passando por reduções expressivas.
Sistemas hospitalares, como no caso da infecção de 2011, vêm mostrando superlotação, e também ocorrem problemas de coordenação dentro dos sistemas de saúde. Na epidemia de 2011 decorreram duas ou três semanas entre os primeiros casos e o alerta de que o caso era de grande dimensão por falta de circulação das informações entre os centros hospitalares e a demora em fazê-las chegar ao Instituto Robert Koch, o centro de controle de endemias e epidemias na Alemanha.
A solução, portanto, passa pela recuperação do poder de fiscalização dos estados e da União Europeia como um todo. Mas isso, como se sabe, não agrada a atual hegemonia economicamente ortodoxa que prevalece no continente.

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