O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o PT perdeu parte do sonho, da utopia. Em evento promovido pelo instituto que leva seu nome, Lula fez um discurso sobre a necessidade de o partido se renovar e atrair a juventude, com duras críticas a posturas vistas hoje no partido que ajudou a criar.
— Eu acho que o PT perdeu um pouco a utopia. Eu lembro como a gente acreditava nos sonhos, como a gente chorava quando a gente mesmo falava. Chorávamos de nós mesmos, tal era a crença. Hoje, precisamos construir, porque hoje a gente só pensa em cargo, só pensa em emprego, só pensa em ser eleito. Ninguém hoje trabalha mais de graça (pelo partido) — reclamou.
Para Lula, o PT tornou-se um partido "velho", que precisa "urgentemente" se reformular.
— O PT está velho. Eu que sou a figura proeminente do PT tenho 69, estou cansado, já estou falando as mesmas coisas que falava em 80. Eu fico pensando se não está na hora de fazer uma revolução neste partido, uma revolução interna e colocar gente nova, gente que pensa diferente, gente mais ousada, gente com coragem — propôs o ex-presidente. — Nós temos de definir se queremos salvar nossa pele e nossos cargos ou se queremos salvar nosso projeto — questionou.
No debate que recebeu o ex-primeiro-ministro da Espanha Felipe González, do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), Lula disse que pretende chamar para palestras representantes dos novos partidos que vem surgindo na Europa, como o Podemos.
— O PT era, em 1980, o que é hoje o Podemos. A gente nasceu de um sonho, de que a classe trabalhadora pudesse ter vez e ter voz, e nós construímos essa utopia — disse o ex-presidente, ao refletir sobre como recuperar essa ideologia.
— Há necessidade de repensarmos a esquerda, o socialismo e o que fazer quando chegamos ao governo. Enquanto você é oposição é muito fácil ser democrata você pode sonhar, pensar, acreditar, mas quando você chega ao governo, precisa fazer, tomar posições.
Lula repetiu que o partido precisa se reaproximar da juventude e não deixar que prospere o discurso que afasta as pessoas da política.
— A gente precisa rediscutir um pouco as utopias para fazer essa meninada sonhar, acreditar que é possível, se não construir outro mundo, melhorar esse em que nós vivemos — disse — Como a gente pode falar em renovação se não tem um jovem aqui? — questionou olhando para a plateia, selecionada pelo próprio Instituto Lula.
O ex-presidente voltou a reclamar da imprensa brasileira:
— Aqui no Brasil, até o direito de resposta não temos mais, leva 30 anos e quando sai é melhor nem responder.
Lula afirmou que nove famílias controlam praticamente todos os veículos de comunicação e que o país está atrasado.
— O Brasil está atrasado, a regulação da mídia aqui é de 1962, não tinha nem fax. E se você fala sobre isso, leva bordoada de tudo que é lado.
Ex-presidente destacou conquistas do atual governo
Entre as reclamações, Lula afirmou que é mais difícil manter a postura democrática depois que se chega ao governo. Mas disse que é importante aprender a se manter no poder, mantendo as regras democráticas. Sem citar sua sucessora, a presidente Dilma Rousseff, Lula exaltou iniciativas do seu governo nessa área.
— Nunca antes nesse país o povo exerceu tanto democracia e participou tanto do governo como no meu governo — afirmou, lambrando que sua gestão no governo federal promoveu 74 conferências para decidir políticas públicas com movimentos sociais.
Uma das principais críticas de petistas ao governo Dilma é o afastamento da base social do partido.
Apesar do comentário de que é difícil manter-se democrata no governo, o petista afirmou que sempre soube que só seria eleito presidente pela via democrática. E comparou seu caso ao de Evo Morales, que segundo destacou Lula, também só chegou ao poder pelas urnas.
Lula defendeu ainda o Foro de São Paulo - grupo composto por partidos e movimentos de esquerda da América Latina, criado em 1990. O Foro é um dos temas mais criticados por movimentos anti-PT e antigoverno.
— O Foro de São Paulo foi criado com a ideia de educar a esquerda latino-americana a praticar a democracia. Na Argentina, nem o Maradona unificava a esquerda. Hoje, os partidos de esquerda participam de governos nesses países.
O ex-presidente falou sobre política internacional e comentou rapidamente sobre ajuste, criticando o modelo que foi adotado em países como Grécia, Espanha, Reino Unido.
— O ajuste imposto lá só fez com que a divida bruta crescesse — afirmou.
noticia: zero hora
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