sábado, 28 de maio de 2011
PODE NÃO HAVER MAIS COMO RECUPERAR O TEMPO PERDIDO.
O tempo passa, mas a ficha não cai. A economia brasileira cresce a olhos vistos. Porém, o desenvolvimento humano da nação segue noatraso. Os indicadores que avaliam as duas variáveis não andam juntos. Os da primeira sobem. Os da segunda não saem do lugar. A acentuada queda da natalidade nas últimas quatro décadas, aliada à distribuição de recursos financeiros à população pobre, endinheirou o povo. Inseriu-o no rebanho de consumidores, mas não fez ele ter melhor qualidade de vida. Embora em nível econômico mais elevado, as classes sociais são as mesmas. A desigualdade é flagrante. Fere cláusulas da Constituição. Ignora a ética. Fragmenta a cidadania. Acentua vulnerabilidades. Condena faixas etárias inteiras a carências diversas e a riscos de extinção degradante. A temperatura da violência é bem mais alta que a do aquecimento global. Agrava a ameaça à vida das pessoas. Só não o sente quem é muito frio. Afora acidentes menos extremos em que se envolvem, crianças e adolescentes abandonados à própria sorte são alvos de chocante extermínio. Quase que diariamente um, ou uns deles morrem vítimas de homicídio. Centenas ao ano, somente em Itabuna. Pedofilia, prostituição, trabalho infantil e abusos de toda ordem transitam na perigosa rota das drogas, gerando recantos dantescos nas madrugadas hediondas que devoram gerações dos ditos sujeitos de direito, na verdade meros objetos de desrespeito. Entre as armas diabólicas que afetam mortalmente nossa sociedade, merecem destaque a preocupação com o crack e a permissividade com álcool e cigarro. Os graves estragos produzidos pelas substâncias tóxicas dos três produtos são conhecidos. O primeiro deles é combatido pela polícia. Os dois outros por frases de efeito: "Se beber, não dirija" e "Cigarro faz mal à saúde". A indução televisiva ao consumo de álcool é sedutora. A do fumo dispensa a televisão, tem veículos próprios. As cidades estão cheias de bares, fumódromos e crackolândias. Só as últimas incomodam. Na lógica reinante, uma simples frase resolveria o problema: "Se usar crack, não durma na rua". Boa parte de tantas chagas da sociedade decorre do descaso com que a infância é tratada. Não investir em saúde e educação nos primeiros seis anos de vida é perder oportunidade irrecuperável. A ciência o comprova. Contudo, o país continua sonhando com Copa do Mundo, estádios, aeroportos e outros megaequipamentos urbanos que reproduzam a dinâmica do pão e circo do antigo Coliseu. A Constituição brasileira determina prioridade absoluta aos direitos de crianças e adolescentes. Apesar disso, somente uma pequena parcela da população na primeira infância tem acesso às necessidades requeridas para o desenvolvimento integral. Os efeitos são previsíveis. Estudantes brasileiros mostram baixo desempenho em matemática, ciências e leitura. Ficaram em 53º lugar na avaliação que testou alunos de 65 países. Segundo pesquisa da CNI, 70% dos empresários têm dificuldade para contratar trabalhadores qualificados. Capacitá-los na empresa é frustrante. A baixa qualidade da educação básica que receberam na infância limita a aprendizagem. O desafio é gritante. A evidência, incontestável. A prioridade é constitucional. Se a ficha não cair agora, amanhã será tarde demais.
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