segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O PETISTA E O GENERAL


Certa vez perguntaram ao General João Baptista Figueiredo, último dos presidentes milicos, o que ele faria se precisasse viver com um salário mínimo. O fardado, bruto como aquela turma sabia ser, respondeu: “eu daria um tiro no ouvido”.
Esse fato ocorreu no começo dos anos 80, quando surgia no Brasil um partido que tinha uma proposta diferente para o País, focada no socialismo, na melhoria das condições dos trabalhadores e, enfim, na organização de um Estado voltado para a dignidade humana, com menos desigualdades.
Aquele par tido chegou ao poder em 2002, já bastante modificado e após tranquilizar as elites com a “Carta ao Povo Brasileiro”, na qual se comprometia a não promover rupturas no status quo. Enfim, aquelas bandeiras iniciais ficaram na memória e no sonho, embora tenha havido mudanças positivas no País, com a redução do número de pessoas que vivem “abaixo da linha da pobreza” e inclusão de mais gente na classe média, ainda que se valendo de um conceito amplo para definir quem pode participar desse clube de remediados.
Na realidade, o partido que prometia colocar o trabalhador como prioridade optou por privilegiar banqueiros e, para governar, aliou-se ao que há de mais retrógrado e corrupto na política nacional. Aliás, a corrupção foi também elemento marcante da gestão, o que se confirma agora com as condenações dos envolvidos no chamado esquema do mensalão.
O partido ataca o Supremo Tribunal Federal, o vê pressionado pela mídia conservadora, invoca indevidamente e com falsas premissas a lição do jurista Claus Roxin para questionar a teoria do fato. Partem do pressuposto falso de que o STF se valeu tão somente de indícios para condenar, enquanto na verdade a corte montou um quebra-cabeça unindo tanto indícios como provas.
Nesse ínterim, o ministro da Justiça Eduardo Cardozo confessa que, se tivesse que passar uma temporada em uma de suas prisões, preferiria morrer. Sinceridade pessoal, mas um vexame para um homem público que tem a obrigação, pelo cargo que ocupa, de afirmar o que tem feito para melhorar  o sistema carcerário e por que não consegue executar com eficiência o orçamento definido para sua pasta.
Lamentavelmente, o ministro do partido da mudança perfilou-se com sua frase infeliz ao general que dizia preferir cheiro de cavalo a cheiro de povo. Só pode ser a chamada ironia do destino.

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