sexta-feira, 17 de agosto de 2012

José de Abreu é um paizão na vida real


José de Abreu com o caçula Bernardo
Se em “Avenida Brasil” as crianças do lixão sofrem sob a custódia do grosseiro  e malandro Nilo, na vida real elas não teriam do que reclamar se fossem criadas pelo barbudo que dá vida ao personagem. Apesar da voz grave e do atual visual meio assustador, José de Abreu  é um doce como pai. Aos  66 anos, conta que acompanhou o parto dos cinco filhos,  lavou fraldas e deu mamadeira. O mais velho, Rodrigo, morto aos 21 anos em 1992, é fruto da relação com a advogada Neuza Serroni. Com a atriz Nara Keiserman, teve Theo, de 36, Ana, de 35, e Cristiano, de 28. O caçula, Bernardo, de 12 , nasceu do namoro  do ator com  a economista Andrea Pontual. Ainda fazem parte dessa árvore genealógica quatro netos, com idades entre 4 e 7 anos.
A paternidade mudou José de Abreu. Antes um ativista da luta armada contra a ditadura, ele largou tudo ao saber da gravidez do primeiro herdeiro. Duas décadas depois, viveria a dor de enterrá-lo. Rodrigo caiu da janela do apartamento que dividia com o pai no Rio e não sobreviveu . “A gente tinha uma relação maravilhosa... Mas é a vida”,  diz o ator . Veja a seguir o papo que batemos com ele.
DIÁRIO_ Você é  pai presente?
JOSÉ DE ABREU_ Sempre fui um pai normal. Quando viajava a trabalho, meus filhos iam me vistar. Volta e meia, o produtor dizia: “Olha, lá vem a Família Buscapé” . Na época em que fazia “Fala, Zé!” (2005), o Bernardo foi  me  ver várias vezes. Subia no palco para agradecer junto comigo, era engraçado.  Hoje, a gente almoça  nos fins de semana. E como avô sou muito pai! Bernardo é cinco anos mais velho que a minha primeira neta.

Como foi ser pai pela primeira vez?
Foi uma época barra pesada da ditadura militar. Eu fazia apoio logístico para uma organização da luta armada e um motivo que me fez sair disso foi a paternidade. A possibilidade de ser responsável por uma outra vida mexeu comigo. Mudei do Rio para São Paulo e dois anos e meio depois saí do Brasil para proteger meu filho. Não dava para arriscar. Essa coisa de ser pai é muito séria. Tinha 23 anos, era um bobão, não foi uma coisa planejada. Já com o Theo e a Ana, sim. Estava morando em Pelotas (RS), dando aula na universidade. Já estava em outra ideia, na do John Lennon, da sociedade alternativa, tinha morado em Londres, Amsterdã. O homem não dá à luz nem amamenta, mas o resto ele pode fazer tudo.

Você curtia a parte complicada de ser pai? Acordar de madrugada, trocar fralda?
Em Pelotas, fiz tudo isso. Lavei fralda, acordei de madrugada para  dar mamadeira . E não era fralda descartável, não, porque elas era caríssimas ! Tudo isso  eu  fiz com um prazer muito grande, eu curti mesmo. A minha mãe nunca entendeu. Ela morreu  no  ano passado, aos 107 anos, sem concordar com essa história de eu lavar fralda, de cuidar de filho. (A entrevista é interrompida pela voz grave de Zé: “Ô, Bernardo! Você já comeu? Já tá pronto pra sair? Então troca a roupa, escova os dentes e se apronta. Só faltam cinco minutos para você sair”).

Seu pai morreu quando você tinha 9 anos. Tem medo de faltar ao Bernardo?
Não. Forçando uma barra, que eu morra com 80 anos, Bernardo vai ficar sem pai com 20... O Clint Eastwood (diretor e ator americano) tem 82 anos. Aos 60, ele se casou com uma menina de 20 e poucos e começou a vida toda outra vez.

Há diferença entre ser pai aos 20 e aos 50?
Cada vez mais seguro, com menos problema. Encarando com naturalidade. 
 
Como foi perder um filho?
É terrível, é duro, é antinatural... É uma coisa de vida invertida. Mas, bicho, é a história que te falei, passa, tudo passa... Perdi filho junto com a Christiane Torloni, o Denis Carvalho, agora foi a Cissa..(Guimarães) e o Carlinhos de Jesus. É terrível, mas como eu tinha estudado religiões espiritualistas, isso ajudou. Acredito em reencarnação. Mas a dor você vai carregar pelo resto da vida. Não há substituto para ela.

Você diz que o tom grave de sua voz lhe confere certo autoritarismo. Mas também conta que seus filhos fazem você de gato e sapato...
Ah, fazem. Sou muito bobo! Tem coisas do dia a dia, mandar para escola, escovar os dentes...Mas em 15 minutos de conversa, já me enrolam e conseguem faltar à aula, sabe? Uma vez o Bernardo me perguntou: “Pô, pai, você está sempre bravo?”. Respondi: “Eu não sou bravo, não, é que eu falo desse jeito”. Dizer vai escovar os dentes com esse vozeirão, pô, parece que vai cair o mundo se ele não for!

As crianças têm medo de você por conta do Nilo, essa barba enorme?
Nada, as crianças me pedem autógrafo, foto.  
 
Criou personagens para os seus filhos quando eles eram menores?
Dois: o Ursinho Bobalhão e o Gato Safado. Criei, acho que para o Theo e a Ana. O urso é carente, o gato é safado! (Ele interpreta os personagens e  ri).
 
Você deixa o Bernardo ver a novela?
Não gosto muito. Às vezes, o chamo para ver uma cena engraçada. É que tem coisas pesadas que não são boas para a idade dele. Meus filhos não ligam para novela.

Entre pais e filhos, chega uma hora em que os papéis se invertem. Com você também aconteceu isso?
Ligo para o Theo para fazer consultas. Ele é pé no chão, leonino. (Bernardo chega esbaforido. “Pai, o Brasil ganhou uma medalha de bronze, de judô!”). Quem me convenceu a comprar esta casa foi o Theo.

A informática ajuda você a se sentir mais jovem?
Sem dúvida é um bruta exercício para não envelhecer, assim como decorar textos. Brigar com um computador, desmontar, criar um problema... Acabo com os meus computadores. Limpo, formato, faço tudo.

Além da computação, quais são os outros segredos para manter a cabeça feita e o espírito jovem?
Discuto muito as coisas, viajo. Quando estou fora do Brasil ando dez horas por dia. Quando vou ao Nordeste, ando pela praia, pego bugre, sou muito curioso. Agora, aqui em casa, não faço nada. Para andar de bicicleta, comprei uma elétrica. Sou muito preguiçoso. A juventude não é uma coisa do esporte, é do interior.

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