"Estamos cansados de sentir vergonha de Salvador. Queremos nossa cidade de volta". O relato dramático é de um dos manifestantes, mas serve como síntese do movimento "Desocupa, João", que levou centenas de pessoas à Praça Thomé de Souza, no Centro Histórico da capital baiana, na tarde desta sexta-feira (20), para protestar contra o prefeito João Henrique Carneiro (PP), que está no último ano de seu segundo mandato. O nome do movimento é uma referência bem-humorada ao "Ocuppy Wall Street", iniciado no fim do ano passado, em Nova Iorque.
Reunidos na frente do Palácio Thomé de Souza, ao lado do Elevador Lacerda, onde funciona a prefeitura do município, os ergueram cartazes contendo frases como "Fora João" e "Salvador não está à venda", e gritaram palavras de ordem contra o político, que se encontra na Espanha desde a última terça-feira (17). Até o início da noite, o protesto era pacífico. Formado na maioria por jovens, o grupo queimou um boneco simbolizando João Henrique.
No panfleto distribuído pelos participantes do protesto, que se mobilizaram principalmente pelas redes sociais, os manifestantes justificam o que levou o movimento às ruas. "Após sete anso de desmandos e descuidos, o prefeito João Henrique e a maioria da bancada de vereadores aprovaram, inconsequentemente, uma alteração na lei que regulamenta o uso do solo, permitindo a ocupação de áreas de proteção ambiental e a ampliação de edifícios da orla, de forma que farão sombra nas praias na maior parte do dia."
A Lei de Ordenamento do Uso e Ordenamento do Solo, ou Louos, como ficou conhecida, foi sancionada pelo prefeito na última segunda-feira (16), um dia antes de ele viajar para a Europa. Ela foi aprovada de conter nove emendas com o mesmo conteúdo do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) da Copa do Mundo de 2014, que teve a tramitação suspensa pela Justiça. O Ministério Público da Bahia (MPBA) acionou os vereadores favoráveis ao projeto e estuda uma punião ao prefeito João Henrique.
"Ele fugiu. Viajou no dia seguinte e contou com a nossa passividade. Mas não vamos ficar parados. Vamos intensificar nosso movimento até essa lei ser revogada e ele sair da prefeitura", declarou, visivelmente indignado, o arquiteto Ícaro Vilaça, 24 anos. O movimento, fazem questão de frisar os integrantes, não tem ligação com nenhum partido político e nem lideranças. De acordo com alguns dos integrantes do "Desocupa, João", a ideia é permanecer durante toda a noite no local. "Esta é só a primeira ação.
Em alguns dos cartazes havia a inscrição "Um ano faz diferença", em referência ao tempo aproximado que resta a João Henrique como prefeito. "Vai haver uma pressão constante. Não vamos parar por aqui. Nos mobilizamos agora e a resposta foi muito rápida. Planejaremos outras ações", destacou o também arquiteto Juca de Oliveira, 23. Segundo estimativa dos integrantes do movimento, cerca de 800 pessoas estavam na frente da prefeitura.
Já a avaliação da Polícia Militar (PM) foi mais modesta. "Acho que tem umas 300 pessoas aqui" disse o major Arnaldo Neto, comandante do 18º Batalhão da PM. Segundo ele, houve reforço de 15 homens - além do efetivo que já cuida da segurança da prefeitura - para garantir que não houvesse invasão ou "quebra-quebra". "Mas o movimento está tranquilo, pacífico", comentou.
COINCIDÊNCIA - O início do protesto coincidiu com o fim da cerimônia que marcou aassinatura do termo de anuência entre o Governo do Estado e as prefeituras de Salvador e de Lauro de Freitas (na Região Metropolitana), relativo à implantação do projeto de mobilidade urbana da capital do Estado. O plano prevê a implantação da Linha 2 do metrô, ligando o Acesso Norte, em Salvador, ao município de Lauro de Freitas, passando por toda a Avenida Paralela, e ainda a implantação das vias alimentadoras.
Estavam presentes no evento o governador Jaques Wagner, o prefeito em exercício, Edvaldo Brito, que é vice-prefeito, a prefeita de Lauro de Freitas, Moema Gramacho, entre outros políticos. Nenhum deles apareceu publicamente durante o protesto.
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